Professores vivem rotina de violência nas escolas

Professores vivem rotina de violência nas escolas
Pesquisa mostra que esta é a situação que mais provoca sofrimento no ambiente de trabalho; medo evita denúncia

13/12/2010 - 15h30 . Atualizada em 13/12/2010 - 15h59

Fábio Gallacci e Natan Dias



Alunos e amigos do professor Kássio Gomes, assassinado pelo estudante Hamilton Caires, durante manifestação no Centro de Belo Horizonte
(Foto: Divulgação)
Uma nota baixa teria sido o motivo para que o aluno Amilton Loyola, de 23 anos — réu confesso, segundo a polícia —, ressolvesse matar com uma facada o professor de educação física Kássio Vinícius Castro Gomes, de 39, dentro de uma universidade particular de Belo Horizonte (MG), na semana passada. Em Campinas, no último mês de julho, o também professor de educação física E.R.L., de 44 anos, foi agredido com murros, tapas e teve sua roupa rasgada pela mãe de uma aluna. O motivo: um par de sandálias. “Não reagi e saí bem machucado. Fiz um BO (boletim de ocorrência) e estou processando essa mãe”, diz ele. Esses casos comprovam que a violência tem feito parte da rotina nas escolas e que o medo é um intruso cada vez mais incômodo nas salas de aula.

Uma professora de Ensino Médio de Campinas que não quer ser identificada com medo de consequências ainda mais graves, já que foi vítima de uma “brincadeira de criança”, como definiu a diretoria da escola. Um aluno da 6ª série adicionou sonífero à sua garrafa de água. “Eu poderia sofrer algum acidente se fizesse efeito enquanto eu dirigisse. Como não havia ninguém da coordenação da escola, chamei a polícia para fazer um BO”, conta. Na delegacia, ainda na presença dos policiais, foi insultada e ameaçada pelo pai do aluno.

Uma pesquisa recente realizada pela direção do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), em conjunto com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos (Dieese), ouviu 1.615 professores da rede pública estadual – 67,4% do sexo feminino e 32,6% do masculino – que participaram do 23º Congresso da Apeoesp, ocorrido em setembro. O levantamento mostrou que, para 57,5% dos entrevistados, a violência nas escolas é a situação que mais provoca “sofrimento no ambiente de trabalho”.

TráficoA criminalidade armada e o tráfico de drogas invadindo as escolas são outros importantes fatores que retraem qualquer atitude mais efetiva dos profissionais da educação. “Tenho amigos — e inclusive eu — que têm medo de denunciar uma agressão. Quando se trabalha em um lugar onde há tráfico e o crime é algo comum, não há quem te proteja, ninguém se arrisca a falar. Somos nós que vamos para o bairro e para a escola todo dia nos expor”, desabafa uma professora de Ensino Médio de Campinas que, por receio de ser a próxima vítima, não quer ser identificada.

'A gente trabalha com medo de alguns alunos, essa é a verdade. Outro dia, um deles chegou 20 minutos atrasado à minha aula e eu não deixei entrar. É uma regra que coloquei, não permito atrasos, também não deixo eles mexerem com o celular ou o MP3. Ele saiu gritando, mandou eu me f... Um conhecido meu já tomou uma cadeirada nas costas dentro da sala”, conta outra professora, de história, que também não quer ver seu nome publicado.
Leia a reportagem completa na edição impressa do Correio Popular do dia 13/12/2010

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